Março, 25
[…] Ora tudo isto vem a propósito de aulas más. (Aulas más são as que os rapazes não querem ouvir.) Mas então – poderia eu defender-me – que culpa temos nós de os rapazes serem barulhentos, desinquietos e desatentos? É verdade que às vezes a culpa não é nossa: é toda deles, a quem mais apetecia estar na rua que na escola. Mas para isso justamente é que serve o bom professor – e o meu drama resulta de que a mim só me interessa ser bom professor. Ser bom professor consiste em adivinhar a maneira de levar todos os alunos a estarem interessados; a não se lembrarem de que lá fora é melhor. E foi o que eu ontem não consegui.
In Diário de Sebastião da Gama (escrito quando era professor estagiário, no ano letivo de 1948-1949)
Com a variedade de recursos que temos hoje em dia à disposição e com a evolução positiva dos métodos de ensino, tudo faria pensar que a aprendizagem atual seria algo extraordinário. Todavia, como no passado, o principal é o relacionamento entre professores e alunos.
Na realidade, uma boa aula precisa sobretudo destas peças fundamentais: um bom professor e bons alunos. Mas como sabemos o que os faz “bons”?
Um bom professor é aquele que capta a atenção dos alunos de forma carismática. Nascer com carisma será, então, estritamente necessário? Não. Há outros fatores que tornam um professor bom, por exemplo, a alegria no trabalho e a disponibilidade para o aluno, não o desmotivando de qualquer forma.
O bom professor pensa numa maneira de cativar os alunos e mantê-los atentos. Pode atingir este objetivo ao utilizar atividades que saiam da rotina e que promovam a interação. O bom professor avalia de forma justa todos os alunos e dá-lhes conselhos para haver melhorias. O bom professor tem capacidade e facilidade de comunicar. Em contraste, um mau professor é desinteressante e incapaz de lidar com a diversidade que necessariamente encontra em cada turma.
Por outro lado, para os professores cumprirem a sua missão, cada aluno deve também cumprir a sua. Então, por sua vez, um bom aluno reúne várias qualidades: participação ativa, empenho, bom relacionamento com os professores e colegas e, muito importante, habilidade de aplicar os conhecimentos de forma oportuna e natural, evitando ser mecânico e apenas decorar para depois esquecer. O bom aluno consegue absorver conhecimentos, interagindo com o professor e não perturbando as aulas, esforçando-se para estar atento e participando nas atividades com empenho, não se esquecendo ainda de tratar os colegas e professores com respeito. É ainda aquele que estuda, mesmo que os resultados que alcança às vezes não correspondam ao seu esforço. Por contraste, o mau aluno é o que demonstra apatia, falta de responsabilidade
e resistência ao estudo. Todavia, acreditamos que todos os alunos podem ser bons, com o devido acompanhamento e vontade.
Numa boa aula tudo flui naturalmente. O professor planifica as atividades e, mesmo que não se cumpra totalmente essa planificação, tanto este como os alunos saem da sala com o sentimento de dever cumprido, pois ambos se esforçaram ao máximo para fazerem o seu trabalho, já que a educação é um esforço conjunto, onde todos têm um papel importante a desempenhar. Se não for assim, muito dificilmente o professor vai conseguir ensinar ou o aluno aprender.
As aulas más acontecem quando o professor não comunica com os alunos e fica a falar e a falar, a ler o que está nos livros e a reclamar por tudo e por nada. Quando o professor não transmite uma boa energia, grita e está zangado, cria-se um mau ambiente, os alunos ficam tristes e é mais difícil aprender. Mas, certamente, para termos uma boa aula, é preciso haver a colaboração do aluno. Se o aluno for desinteressado e barulhento ao ponto de incomodar, o professor não vai ter incentivos para ensinar, sente que fala para alguém que não quer saber.
Assim, os principais fatores para uma aula ser má são professores monótonos, sem vontade de ensinar, e alunos apáticos ou barulhentos e irritantes.
Em síntese, se queremos aulas boas, temos de tentar ser a nossa melhor versão. Os professores, sendo compreensivos, interagindo com os alunos para os ensinar, aconselhar e tirar dúvidas. Os alunos, estando atentos, sendo respeitadores, estudiosos e participativos na aula. E todos tentando ser boas pessoas dentro e fora da sala de aula, cooperando uns com os outros. Nada é tão bom como um professor que quer estar ali a dar a sua aula, lado a lado com um aluno que vai para a escola com vontade de aprender.
Se estamos na escola, a melhor atitude é tentar retirar o melhor da escola. Com este espírito, está criado o clima para conseguirmos uma boa aula: aquela que faz os alunos não pensarem que lá fora é melhor.
Alunos do 9.ºC e do 9.ºG